O voluntariado de competências, uma forma sustentável de abordar o voluntariado empresarial
O voluntário empresarial não é estratégico para a sustentabilidade, mas deve ser pensado estrategicamente se a empresa achar que faz parte do seu papel na sociedade.
Uma primeira abordagem deveria começar com uma questão: qual é o papel da empresa na Sociedade? Não existe resposta certa, mas a origem da resposta deve vir sempre do topo: a Direcção da empresa deve assumir qual a sua visão das relações entre a organização empresarial e a comunidade. O primeiro passo é sempre estratégico: como vamos posicionar a empresa na sociedade e, a partir daí, faz ou não sentido desenvolver um programa de voluntariado empresarial? Nessa altura, é preferível prolongar a reflexão e entender a problemática e os riscos associados.
Problemáticas … |
Riscos … |
Os programas de voluntariado consomem tempo. Nem sempre é fácil nem “popular” libertar um colaborador para uma acção que não esteja relacionada com objectivos imediatos da empresa
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O maior risco é a desmotivação progressiva, a incapacidade em acompanhar projectos de médio prazo. É por esta razão que muitos programas acabam por se resumir a acções anuais de meio-dia ou dia inteiro, em que a actuação é muito pontual e serve mais como team buiding ou acção de charme junto dos media, sem que o benefício para a comunidade seja francamente relevante |
O aspecto “voluntário” remete para a ideia de que a escolha do programa deve ser feita pelos colaboradores
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Regra geral, as causas escolhidas são as mais mediáticas, as ONG sempre as mesmas, não havendo uma clara diferenciação e posicionamento da empresa. Ou seja, a empresa faz o que qualquer outra podia fazer
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O programa de voluntariado empresarial é um programa montado num contexto profissional. Deve ser eficiente, ter uma avaliação, etc.
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É preciso entrar numa lógica de projecto: identificar o contexto, as necessidades e urgências da comunidade, de que forma a empresa pode responder com maior eficiência. Como vamos medir os resultados quer para a empresa, quer para a comunidade? |
O voluntariado por si só não resolve todas as questões ligadas com os impactos na empresa em termos de sustentabilidade; é raramente estratégico quando se fala em mitigar os impactos mais negativos das empresas
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Por vezes o excesso de comunicação à volta das acções de voluntariado descredibiliza as empresas, sobretudo porque estas acções raramente têm a ver com o seu negócio, com a sua área de actuação e com os seus impactos. Quanto mais longe a actuação estiver da empresa, maior é o risco de esta ser associada à prática de greenwashing. |
O voluntariado de competências – a forma sustentável do voluntariado
Quando a empresa tem uma estratégia de sustentabilidade, o programa de voluntariado deve contribuir para responder aos desafios da empresa em matéria de desenvolvimento sustentável e valorizar as competências da empresa. É o primeiro nível do voluntariado de competências, que cruza a actuação dos colaboradores ao nível da comunidade, com a área de negócio e de conhecimento da empresa. Exemplos disso são a disponibilização gratuita, para ONG, de serviços de transporte pelas empresas de logística, a cedência de nutricionistas por parte de empresas agro-alimentares para elaborar ementas equilibradas e acessíveis para os lares, as formações em informática proporcionadas por empresas de IT, as auditorias financeiras ou de RH desenvolvidas por gabinetes de consultoria, etc.. Este tipo de abordagem inscreve claramente o programa de voluntariado dentro do core business e legitima a actuação da empresa quer interna, quer externamente, como uma acção que acrescenta valor em matéria de imagem e que até pode contribuir para pensar em novos produtos e novos segmentos de clientes.
O segundo nível do voluntariado de competências tem a ver com as competências próprias dos colaboradores da empresa que podem ser úteis às ONG: conhecimentos em recursos humanos, em informática, em marketing, são essenciais para uma maior profissionalização e desenvolvimento. Nestes casos, os projectos podem perder alguma visibilidade (não é tão fácil passar para os media) mas os benefícios para os colaboradores mantêm-se muito relevantes em termos de auto-estima, de motivação e da visão que têm sobre a empresa.
O ideal é quando os dois níveis se cruzam, criando uma imagem diferenciadora quer ao nível da empresa, quer ao nível dos indivíduos, com uma forte coesão entre as políticas da empresa relacionadas com o desenvolvimento sustentável e, por exemplo, as políticas de recursos humanos e de actuação na comunidade.
Os primeiros passos
• Criação de uma equipa de trabalho transversal (RH, marketing, relações institucionais, ambiente, etc.) – Prever sessão de formação sobre voluntariado empresarial
• Elaboração da estratégia de voluntariado e primeiro diagnóstico: como se vai articular a estratégia de sustentabilidade com as diferentes políticas da empresa; quais são as questões importantes para a sociedade/comunidade; como se cruzam com os desafios e competências da empresa, etc.
• Escuta das partes interessadas – ONG locais ou nacionais – diagnóstico de necessidades
• Escuta das partes interessadas – colaboradores - para ajudar a definir mais especificamente a associação e o projecto, assim como identificar voluntários
• Escolha do(s) projecto(s), identificação do tempo que deverá ser alocado, aprovação, plano de trabalho, objectivos e escolha do tipo de avaliação.
O que é o voluntariado empresarial
“Um conjunto de acções realizadas por empresa, ou qualquer forma de apoio ou incentivo dessas empresas que visem o envolvimento dos seus colaboradores, disponibilizando o seu tempo e competências em acções voluntarias na comunidade.”
In Como Implementar Projectos de Voluntariado Empresarial – GRACE/Instituto Ethos
www.grace.pt
Artigo escrito por Nathalie Ballan, da SDC para a Newsletter ‘Sustentabilidade’ do BCSD Portugal