Territórios Sustentáveis: Produção descentralizada de energia Produção descentralizada de energia ================================================================================ territorios sustentaveis on 14/09/2009 18:40:00 A produção descentralizada de energia, ou microgeração, refere-se à possibilidade de o consumidor, particular ou empresa, poder produzir a sua própria energia, recorrendo para tal a equipamentos de pequena escala, como por exemplo painéis solares, microturbinas, microeólicas ou mini-hídricas. A energia produzida pode ser aproveitada para o aquecimento de águas sanitárias ou para a produção de energia eléctrica, que pode ser vendida à rede de distribuição nacional. O nosso país apresenta condições bastante favoráveis ao aproveitamento da maior parte das fontes de energia renovável existentes, destacando-se a energia solar pelo facto de Portugal ser um dos países da Europa com maior disponibilidade de radiação solar. O número médio anual de horas de Sol varia, no território continental, entre as 2200 e as 3000 horas, enquanto na Alemanha este número se situa entre 1200 e 1700 horas. Infelizmente esta maior disponibilidade não se traduz num maior aproveitamento, facto que se torna evidente quando comparamos os 2220 GWh produzidos na Alemanha em 2006 com os 5 GWh de Portugal.   De forma a inverter esta tendência foi aprovado o Decreto-Lei 363/2007 que avança com o regime simplificado aplicável à produção descentralizada de energia, também designado por "Renováveis na Hora", que entrou em vigor a 2 de Fevereiro de 2008. Este diploma articula-se com o Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE), na medida em que as unidades de produção descentralizada de energia contribuem positivamente para a eficiência energética dos edifícios residenciais e de serviços. Articula-se igualmente com o Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC), estando a produção de electricidade a partir de fontes de energia renováveis entre as medidas que apresentam resultados mais positivos. Encontram-se igualmente definidos incentivos para o investimento em equipamentos renováveis, que passam pela aplicação de uma taxa intermédia de IVA (12%) e por benefícios fiscais, tornando possível deduzir 30% do valor total do investimento no IRS (até ao valor máximo de 777€), ou amortizar o investimento em apenas quatro anos para efeito de cálculo do IRC. As empresas poderão ainda recorrer ao QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), o qual prevê o incentivo à instalação de sistemas energéticos para consumo próprio, utilizando fontes renováveis de energia.   Os novos clientes/produtores têm acesso a dois regimes remuneratórios para a electricidade que produzida, um Regime Geral onde o de venda de energia à rede é igual ao preço de compra do kWh definido pela ERSE (Entidade Reguladora do Sector Energético) e um Regime Bonificado, o preço de referência é de 650€/MWh, sendo este valor fixo por um período de 5 anos, mas apenas para os primeiros 10 MW de potência instalados a nível nacional. O preço apresenta ainda uma variação consoante o tipo de energia renovável utilizado, sendo aplicada uma percentagem de 100% no solar, 70% na eólica e 30% na hídrica e cogeração a biomassa. As mudanças em curso no sector eléctrico exigem um novo conceito de rede de distribuição, integrando mecanismos de inteligência que estabelecerão uma nova forma de gestão e controlo da rede, em linha com o conceito de Smart Grids. A nível nacional a materialização deste conceito teve o seu arranque com o lançamento do projecto InovGrid, através do qual a EDP pretende dar resposta a este desafio. A produção descentralizada de energia possui ainda inúmeras outras vantagens a nível ambiental, social e económico, de entre as quais se destacam: *Redução das emissões de gases com efeito de estufa, já que esta energia é produzida a partir de fontes renováveis; * Melhoria da balança comercial nacional, pois prevê-se uma redução na importação de energia e no pagamento de direitos de emissão de CO2; * Desenvolvimento de uma indústria de serviços na área da energia, calcula-se que sejam criados centenas de postos de trabalho, nomeadamente nas áreas da instalação, manutenção e certificação de equipamentos; *Criação de fileiras industriais com elevado potencial de inovação e de exportação, produzindo os diferentes equipamentos necessários à produção descentralizada de energia. A produção descentralizada de energia é ainda uma hipótese dos cidadãos e empresas poderem contribuir para os objectivos da política energética e ambiental nacional, através do alinhamento da oferta e da procura de energia, aumentando a sua própria eficiência energética e iniciando o seu percurso de sensibilização para questões mais amplas da sustentabilidade. Artigo escrito por Nathalie Ballan, da SDC para a Newsletter ‘Sustentabilidade’ do BCSD Portugal